terça-feira, 26 de novembro de 2013

era já madrugada quando eu cheguei
refugiada na cozinha
irada àtormentar estalos

meu pai numa voz que nunca vi me chamou na sala
- eu não lembro se eu pensei -

um beija-flor azul era uma mariposa gigante batendo asas embaixo do ventilador do quarto andar
- não quer ir embora, ele disse.

fizemos escuro e ele foi pra janela, olhou pra nós e saltou
voltei muito silenciosa pra cozinha

meu pai me chamou dessa vez com uma voz engraçada

um beija-flor azul menor que aquele rodopiava a sala


desse dia em diante  não falamos alto


terça-feira, 12 de novembro de 2013

milhões de asinhas cintilantes deslizavam nos quase dois dedos de poeira feliz de já quase estar terra outra vez
no dia de sol escondido, a cadeira de rodas e o cavalinho de crina pura e escarlates olhos de vidro testaram nossa serenidade pro uivo medonho que o vento as vezes faz
tínhamos pouco tempo porque contávamos com a desorientação espacial e nos perdemos algumas vezes
os vivos viviam invisíveis e escondidos e nos picaram bastante até entendermo-nos
eu conversava em língua humana - português - com os espíritos enquanto amolecia o tempo n'água
no único quarto ocupado havia uma cordilheira de caixas de papelão de caos e universos que a gente vive a completar com belos rabos de sereia

domingo, 3 de novembro de 2013